Na manhã do dia 10 de abril, no auditório Cordeiro Clève, ocorreu o projeto Academia UniBrasil com a presença do Coordenador Científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas, o doutor Mauricio Fiore. O convidado ministrou palestra com o tema: “Repensando o lugar do Estado frente às drogas e seus usos”.
No evento, a coordenadora do Projeto, professora Wanda Camargo, iniciou comentando que “uma das questões mais prementes e controversas da atualidade dizem respeito às drogas. Trata-se de um problema em escala planetária, associado a temas muito sérios de saúde pública, ligado à criminalidade (parte significativa das populações masculinas e femininas dos presídios está relacionada ao tráfico), e que ameaça a estabilidade de muitos países. No âmbito pessoal, o consumo perfaz um leque que vai do sancionado álcool – desde uma quase inócua taça de vinho ou eventual dose de destilado ao alcoolismo patológico – ao tabaco, maconha, opiáceos, cocaína e derivados, drogas sintéticas várias. Os riscos do consumo descontrolado e da adição não podem ser ignorados, porém raramente o tema é posto em debate sem que posições radicais punitivas, compreensíveis mágoas de vítimas, ou propostas de liberação sem muita consistência, venham ao palco”.
Por isso o Projeto Academia UniBrasil, em conjunto com a Escola de Saúde, julga importante ouvir um especialista no assunto, Mauricio Fiore, que, além de coordenar a plataforma é também pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento,
De acordo com Fiore o assunto das drogas é fundamental, não apenas para a área da saúde, mas sim para todas, pois é preciso colocar a questão das drogas como uma das prioridades nacionais. As pessoas não precisam se especializar no assunto, mas tem que se informar a respeito. “Hoje as drogas não são apenas questão de saúde pública, infelizmente elas se tornaram uma questão de segurança pública. Muito por conta de um modelo que temos, que se fortaleceu no século XX, que chamamos de ‘proibicionista’, que aposta na ideia de que você pega um conjunto de drogas, simplesmente proíbe e acha que com isso as pessoas não irão usar. Criou-se, na verdade, uma questão de segurança pública terrível para o país”, e o palestrante ainda explica que isso ocorre porque do mercado de drogas movimenta milhões e que essa demanda é atendida com uma oferta que está na mão de criminosos. “Esses criminosos mais poderosos nunca são apanhados ou são pouco apanhados, quem acaba sendo preso pela polícia são os mais pobres, que são recrutados nas camadas mais desassistidas, na maior parte deles negros, que enchem as prisões, e com isso ainda acabam sendo recrutados por facções criminosas na prisão”, conta.
Mauricio Fiore afirma ainda que o combate da polícia aos criminosos demanda muitos esforços, para combater um crime que não é violento, em um país que tem tantos assaltos, homicídios e estupros. “É urgente que a gente rediscuta e repense a forma como o Estado está lidando com as drogas”.
Segundo o palestrante a melhor forma para combater essa “guerra”, é trocando de paradigma, pois o Brasil nunca fez isso sozinho. No século XX a maior parte dos países assinaram convenções internacionais que consideravam o uso de algumas drogas tão nocivas que deveriam ser proibidas por fazerem mal, mas as pessoas esqueceram que já as consumiam. “A melhor forma é lidar caminhando no sentido do Estado tomando conta, controlando e cerceando, mais ou menos como foi feito com o tabaco. No caso do tabaco, o Estado entrou para combater de verdade, aumentou o preço, proibiu o consumo em lugares fechados, realizou educação massiva, retirou do ar propaganda, entre outros”. O sociólogo finaliza enfatizando que essa guerra traz mais problemas do que aqueles que as drogas podem causar.
O evento, assistido por diversas turmas da Escola de Saúde, mas também por estudantes de Direito, alunos da Polícia Militar e de cursinhos, foi considerado extremamente elucidativo e pertinente para os estudantes, deixando coordenadores e professores presentes muito satisfeitos.
Palestrante
O palestrante é bacharel em Ciências Sociais, mestre em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), coordenador científico da Plataforma Brasileira de Política de Drogas e membro-fundador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre psicoativos (Neip) e da Associação Brasileira de Estudos Sociais sobre o Uso de Psicoativos (Abesup). Seu principal campo de atuação acadêmica é o dos estudos sobre drogas psicoativas, sob diversos de seus aspectos (socioculturais, médicos, políticos, entre outros). Também atuou em pesquisas e produziu trabalhos sobre uso do tempo livre e práticas culturais, sociabilidade urbana, violência e educação.