PPGD do UniBrasil convida jornalistas para debater sobre a escalada de violência contra os profissionais da imprensa

Acadêmicos do PPGD em palestra sobre “A Escalada Autoritária contra Profissionais da Imprensa no Brasil”, com os convidados Felipe Harmata, Kátia Brembatti e Simone Giacometti.

Patrícia Campos Mello. Dom Philips. Tim Lopes. O que cada um destes jornalistas têm em comum? Eles integram as estatísticas de profissionais da imprensa hostilizados por agentes estatais na América Latina. Em números, os agressores representam 72% dos que se utilizam de detenções arbitrárias e fazem uso do poder para atacar os jornalistas, segundo o relatório Sombra, da rede Voces del Sur, apresentado pela recém empossada presidente da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Kátia Brembatti, em palestra sobre “A Escalada Autoritária contra Profissionais da Imprensa no Brasil”, aos acadêmicos do PPGD do Centro Universitário.

Para compor a mesa de debate, os convidados Felipe Harmata e Simone Giacometti, ambos jornalistas da rádio CBN Curitiba, e Kátia Brembatti, editora do Estadão Verifica, em evento organizado pelo acadêmico do PPGD e jornalista da BandNews, David Musso, discorreram sobre o efeito cascata de violência contra os profissionais da imprensa, nos últimos quatro anos.  

A presidente da ABRAJI apresentou, em palestra, os principais casos de grande repercussão, no qual jornalistas foram mortos em serviço e/ou sofreram agressões verbais e físicas. Dentre eles, destacam-se o caso do jornalista britânico Dom Philips, morto na Amazônia; o de Tim Lopes, morto há 20 anos, pelo tráfico do morro carioca, profissional que inspirou a fundação da ABRAJI, como explica Kátia Brembatti. Além destes, os mais recentes envolvem duas mulheres jornalistas: a Patrícia Campos Mello, quando realizou uma série de reportagens mostrando disparos irregulares em massa, por meio do whatsapp, em período de campanha eleitoral, no ano de 2018; e a Vera Magalhães, em sabatina das eleições presidenciais de 2022, momento que o candidato a reeleição ao palácio do planalto, Jair Bolsonaro, disse que ela dormia pensando nele. 

Este tipo de pronunciamento pela autoridade máxima de um país, que reverbera entre os aliados do presidente, “deslegitima ou, até mesmo, descredibiliza a imprensa, além de fragilizar a pessoa, como foi o caso da jornalista Vera Magalhães”, analisa professora universitária Kátia Brembatti. 

“O ponto central aqui é: a imprensa não é imune a críticas. Ela deve ser criticada. Mas, normalmente, mira-se no mensageiro, no caso, nas mensageiras”, conclui. Kátia mostra o mais recente projeto da ABRAJI, intitulado de “Ctrl X”, no qual monitora pedidos de retirada de conteúdos de sites. Ela recorda do mais recente caso da reportagem do UOL sobre os 51 imóveis da família Bolsonaro comprados em dinheiro vivo, que foi retirado do ar por conta da liminar concedida pelo desembargador Demetrius Gomes Cavalcanti, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, a pedido do senador Flávio Bolsonaro (PL).  

Presidente da ABRAJI, Kátia Brembatti, em palestra do PPGD no UniBrasil.

 

Mundo da Pós-verdade: “os sentimentos valem mais que os fatos”

Conceito de Pós-verdade. Esta temática foi abordada pelo professor universitário e jornalista da CBN Curitiba, Felipe Harmata. Ele consegue exemplificar, por meio de imagens, charges e correntes de whatsapp, a definição da Universidade de Oxford para a palavra do ano de 2016, “Pós-verdade”. 

Em suma, significa a prevalência dos sentimentos sob os fatos. “Quando rompemos com o fato, para onde a gente vai? Recorremos aos sentimentos, que estão relacionados com a visão de mundo, com os credos e os valores da pessoa”, pontua o professor Harmata. Ele continua: “a pessoa está preocupada com a sua visão de mundo sendo atacada. Por isso, é pós-verdade, porque rompi com a realidade”. 

Em tempos de redes sociais, os grupos extremistas com visões alternativas da realidade conseguiram se unir. Esta análise, segundo o palestrante, corrobora com os pensamentos do filósofo brasileiro Wilson Gomes, quando evidencia que o ataque do agressor tem o intuito de deslegitimar o dado em si. Ou seja, contrapor o fato que a pessoa não gosta. Para traçar um paralelo com o conceito de pós-verdade, o professor Harmata compartilha a charge da lâmpada sendo prestes a ser enforcada, na frente das velas. “Gosto muito desta charge. Ou seja, quem a sociedade está levando para a forca? É o conhecimento. Quando as pessoas atacam, elas colocam no mesmo lugar o que é fato, opinião e narrativa”, analisa. 

Ele enfatiza que, por exemplo, na divulgação da previsão do tempo, as pessoas não questionam a informação (o fato). Nas palavras do palestrante, é algo que já está pacificado entre as pessoas, diferentemente das pesquisas eleitorais. Isso fica evidente nas fotos tiradas nas posses presidenciais dos EUA, no qual os veículos de comunicação fizeram um comparativo do número de pessoas que compareceram na posse dos ex-presidentes Barack Obama e Donald Trump. 

Quando o presidenciável Trump, à época, foi questionado sobre as diferenças gritantes entre as fotos, os jornalistas foram hostilizados e agredidos verbalmente. Felipe Harmata analisa que, mesmo com a avalanche de informações nas redes sociais que não são verificáveis, a sociedade passou a recorrer às mídias tradicionais para obter informação de credibilidade. 

“Em momentos de tensão, vimos a mídia tradicional crescendo. O The New York Times (NTY) teve um aumento de assinaturas, na crise do governo Donald Trump. Na pandemia do Brasil, por exemplo, houve um aumento do tempo de jornal de todas as TV’s e rádios”, diz. 

Segundo explica o palestrante Felipe Harmata, até tempos atrás, a mídia tradicional conseguia agendar alguns temas. Ele diz que há pontos positivos, porém, os negativos impactam o interesse público, “porque outros assuntos não entram na agenda da imprensa, que historicamente não apareciam”. 

O professor Harmata finaliza: “quando as mídias sociais rompem com essa lógica, surgiram assuntos que o espaço público não dava conta. E isso é sensacional. Mas, ao mesmo tempo, o filtro se perdeu. Então, as nossas relações com os meios também se transformaram”, conclui.

 

Jornalista da CBN Curitiba, Felipe Harmata, em palestra do PPGD no UniBrasil.

 

Jornalista agredida durante exercício da profissão

A convidada Simone Giacometti, jornalista da CBN Curitiba, contou a própria história aos acadêmicos do PPGD no UniBrasil. Em palestra, a profissional relembra o dia que foi agredida verbal e fisicamente por um senhor, enquanto trabalhava apurando uma informação para fechar a matéria. Neste meio tempo, teve seu instrumento de trabalho retirado da mão (o celular da empresa), como forma de impedir que o profissional executasse o trabalho em campo. 

Esta postura é definida pela presidente da ABRAJI, Kátia Brembatti, como uma atitude “machista, misógina e sexista” com as mulheres jornalistas.  

Jornalista da CBN Curitiba, Simone Giacometti, simula o caso de agressividade pelo qual passou em palestra aos acadêmicos do PPGD.

 

Postado em BLOG, COMUNIDADE, DIREITO, DOUTORADO, ESCOLA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS, ESCOLA DE DIREITO, ESPECIALIZAÇÃO, GRADUAÇÃO, MESTRADO, NOTÍCIAS, NOTÍCIAS EM DESTAQUE, PÓS GRADUAÇÃO, UniBrasil.

UniBrasil Centro Universitário

Ver post porUniBrasil Centro Universitário

Deixe um comentário