Rita Patron explica a diferença entre ‘inspiração’ e ‘referência’ através de obras que serviram de releitura para outros artistas
Você conhece aquele meme da Mônica: “Pode copiar, só não faz igual”? É desta maneira que a palestrante Rita Patron traz à tona a definição para “referência”. De uma forma descontraída, a doutora em Arquitetura e Urbanismo incentiva os futuros profissionais a buscar inspiração em tudo que está ao redor do ser humano, seja na leitura, seja na música, ou até mesmo, nos filmes. Estes que, na maioria das vezes, beberam de outras fontes, fazendo uma releitura do original.
Com muito humor, a professora convidada explica que a inspiração “não provém do espírito de [Oscar] Niemeyer”, consagrado arquiteto brasileiro que deixou a própria marca por onde passava. “Inspiração, do latim, significa algo que a gente respira durante a vida. Está todo dia à nossa volta, basta prestar atenção e ter sensibilidade para executar um projeto arquitetônico”, enfatiza a mestre em Teoria e História da Arquitetura, Rita Patron.
Voltada para uma plateia de jovens, Rita se recorda com nostalgia dos tempos em que cursava a graduação de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul. À época, se formava no curso com uma bagagem completa para executar projetos arquitetônicos de hospitais, complexos esportivos, dentre tantos outros. Na primeira oportunidade que teve para atuar como profissional de fato, se deparou com uma das maiores dificuldades: criar um projeto de uma edícula de 32 m² ao cliente amigo da família. Apesar dos anos, ela lembra até hoje que a sensação era de desespero, porque não sabia por onde começar.
“Eu não sou criativa. Sou uma formiguinha trabalhadora. Quando me deparo com um desafio, sento, pesquiso, leio, busco por referências e ideias, até conseguir chegar ao resultado final”, diz. Para materializar essa ideia aos estudantes presentes na palestra, Rita Patron trouxe uma sequência de imagens que evidenciam que “nada provém do nada”. Frase esta que foi proferida pelo arquiteto Edson Mahfuz, no qual significa adaptar o que existe a nossa linguagem e ao nosso tempo.
Confira abaixo as obras que serviram de referências para outros artistas
O castelo do filme da “Rapunzel” é inspirado no Saint Michel, em Paris.
Outro exemplo é a obra de Antoni Gaudí, arquiteto espanhol, que se inspirou na natureza para desenvolver os projetos arquitetônicos.
Todo mundo conhece o quadro de Diego Velázquez, denominado “As meninas”. E o quadro de Picasso, sendo uma releitura da ideia do outro pintor. A obra serviu de inspiração para que Picasso criasse uma nova versão de “As Meninas”. Picasso não copiou a obra, mas a transformou, bebendo da fonte original.
Como explica a arquiteta, o filme “Jogos Vorazes” tem uma linguagem arquitetônica meio construtivista e meio pesadona. Este cenário cinematográfico nada mais é que uma releitura da obra arquitetônica de habitação social da França, do arquiteto Ricardo Bofill.
Qual é a diferença entre “inspiração” e “referência”?
Segundo comenta Rita Patron, se a personagem, Andrea Sachs, do filme Diabo Veste Prada, fosse questionada sobre a diferença entre “inspiração” e “referência”, ela responderia que era a mesma coisa. Como o fez, quando questionada sobre a diferença dos cintos azuis. Da mesma forma vale para executar um projeto arquitetônico: “pensar o conceito e colocar as mãos na obra, são situações bem distintas”, alerta.
“Referência é a minha bagagem. Inspiração é o que vem de dentro e serve para despertar o famoso gatilho”, explica Rita.