Recorrendo a filósofos do século XVII, Pondé define o que é ansiedade no mundo contemporâneo no 17º Ciclo de Palestras da CBN
Texto por Gabrielle Cordovi / Jornalista.
Como colaboradora do UniBrasil, do departamento de Marketing, tive a honra de participar do 17º Ciclo de Palestras CBN, no Centro de Eventos da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), no auditório Mário de Mari. Este convite, proporcionado pela coordenadora dos cursos de Gestão, Negócios e Comunicação, Professora Márcia Almeida, propiciou a reflexão sobre a “Era da Ansiedade”, temática esta ministrada pelo filósofo contemporâneo brasileiro Luiz Felipe Pondé.
À noite de segunda-feira (26/06), contou com a presença de autoridades políticas da capital paranaense, como a atual ministra da saúde do município, Beatriz Batistella Nadas; a deputada da ALEP/PR (Assembleia Legislativa do Paraná), Márcia Huçulak (PSD); e o ex-vereador Paulo Salamuni.
Luiz Felipe Pondé é definido como o Schopenhauer brasileiro, uma característica definida pelo historiador Leandro Karnal, em referência ao filósofo alemão do século XIX, que era conhecido pelo seu pessimismo. O filósofo diverge de Karnal. O professor, titular da Faculdade de Comunicação da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), de São Paulo, considera que seu pessimismo não pode ser comparado ao de Schopenhauer.
Para ele, a “ansiedade” é caracterizada pela falta de controle que as pessoas têm sobre as próprias vidas:
“A ansiedade é caracterizada pelo sentimento de ameaça, de que seus mecanismos de controle vão entrar em colapso”.
Ele entende que a tendência é a piora da ansiedade no mundo contemporâneo. Isso é desencadeado, segundo a perspectiva de Pondé, aos modos de como a vida é produzida. Ou seja, essa angústia está intimamente relacionada à modernização. Esta, por sua vez, ligada a conceitos “utópicos, como o progresso, de que o mundo está avançando”, consequentemente, geram a sensação do sucesso na vida das pessoas.
Na compreensão do filósofo, o mundo progride em matéria de tecnologia e dos avanços da indústria farmacêutica. Exemplo disso, como o próprio palestrante pontuou, é a velocidade com que as vacinas da COVID-19 foram produzidas, durante a pandemia.
Para entender a modernização, Pondé recorreu a História quando ocorre no século XIX a Revolução Industrial, no qual há produção em larga escala, esvaziamento da vida rural, fim do sistema feudal, revoluções de cunho popular, em busca de maior representatividade de grupos sociais e, principalmente, a quebra da aristocracia como classe dominante, dando espaço para o surgimento da burguesia.
Nas palavras do filósofo, a modernização capitalista é uma experiência do controle, visto que ela precisa que os indivíduos entreguem resultados. No entanto, isso não se reduz apenas ao mundo corporativo, mas também reflete em outros campos da vida, tanto na questão da longevidade, quanto na necessidade de controlar a beleza, para parecer mais jovem. Isso tudo são problemas modernos que geram ansiedade.
A angústia, na visão do filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662), significa “uma ferida, um veneno escuro, que brota no coração e na alma”, como recorda Pondé. Esta ideia surgiu no século XVII e era vista como algo que os humanos passavam grande parte da vida tentando desviar deste sentimento.
Mais tarde, no século XIX, Aabye Kierkegaard, filósofo dinamarquês, se inspira no conceito de ansiedade de Pascal para torná-la no grande pilar da sua filosofia existencial. Há também o filósofo suiço Alain de Botton, criador da Escola da Vida, que escreveu o livro intitulado de “Ânsia de Status”. No entendimento do Pondé, é o típico mundo burguês que a sociedade vive atualmente.
Ao recorrer aos primórdios da humanidade, Pondé salienta que a sociedade evoluiu em um ambiente hostil e de sofrimento. E questiona a atual obsessão do mundo contemporâneo pela busca da felicidade, elegendo-a como objetivo de vida.
A resposta para minimizar a ansiedade é recorrer, em partes, à visão de Friedrich Nietzsche. “Se você sobreviver à descoberta de que a vida é uma queda no abismo, você sobreviverá à indiferença do universo”, finaliza.