Se deseja ser universal, canta tua aldeia. O conselho de Leon Tolstói aos que escrevem foi seguido por Clèmerson Clève. Cantar a aldeia, a cidade, o bairro, o lugar mais conhecido, é a expressão de tudo que é humano.
“Serra Pitanga – Memória (quase) poética de uma temporada no céu” é um livro de memórias, daquelas em que não se recordam os fatos vividos e sim os sonhados, pensados, temidos, não o que se viu mas o que foi contado. E é, também, o memorial de uma cidade do Centro-Sul do Paraná, e de seus mitos. Uma obra em três tempos, porque publicada na fase da maturidade, que relata um jovem olhando sua infância, seus primeiros contatos com a vida, com a morte, com os outros, quando tudo ainda é devir.
Diz o poeta que relembra o menino, e já é aquele que prenuncia a cultura futura que começa a acumular:
“Era pó, era pó e ira, era poeira, era pó e ir e ama, era poeirama.
Eram serras de pó de serra, eram montes de serragem podre, eram restos de pinheiro verde, eram sepulcro de um mar já morto.
As casinhas azuis, todas coladas umas às outras casinhas azuis”.
O posfácio é assinado por Gloria Kirinus, doutora em Letras e autora consagrada de livros teóricos na área de Letras e Educação: “Neste livro de Clèmerson Merlin Clève, que ao modo de Carlos Drummond de Andrade, abraçando sua Itabira, nos abraça de verdade no fundo e na forma, encontramos uma serra de corte irregular, numa cartografia de terra firme, margens, rios e mares; tudo retratado em versos que espelham a própria serra. Será que o autor nos encaminha para um território multifacetado de diversos estilos ou ele inaugura um estilo próprio? Vai saber… Ah, caleidoscópio vibrante de uma vida que se organiza em obra. Sim, em obra operante no imaginário do leitor”.
O pai do autor, desembargador Jeorling Cordeiro Clève, escreveu vários livros em que trata desta região na ótica do historiador, destacando-se “Memória de Pitanga” que, em outra vertente, pode ser somado à obra do filho.
Sobre o autor:
Clève é advogado e professor universitário em Curitiba. Jurista conhecido, é autor de inúmeros livros nas áreas do direito constitucional e administrativo. Durante o curso de direito na Universidade Federal do Paraná publicou artigos, contos, narrativas e poemas na Folha Acadêmica do Centro Acadêmico Hugo Simas, o famoso CAHS. Recebeu menção honrosa em concurso de poesias promovido pela Casa do Estudante Luterano Universitário – CELU e pela Secretaria de Estado da Cultura e do Esporte do Paraná, sendo o seu poema publicado na Antologia I Concurso de Poemas CELU. Foi, também, classificado nas categorias de conto e poesia, no Concurso de Contos e Poesia promovido pelo Diretório Acadêmico Rocha Pombo do Paraná – DARPP. Alcançou, ainda, o segundo lugar no Concurso Estadual de Dramaturgia, na categoria autor, promovido pelo Instituto Nacional de Artes Cênicas juntamente com a Fundação Catarinense de Cultura. A peça integrou coletânea providenciada pelo governo do Estado de Santa Catarina. Publicou também, no ano de l981, poemas e contos na antologia II Ato, editada pela Editora Beija-Flor. Em l985 foi premiado em novo concurso de poesias promovido pela Casa do Estudante Luterano Universitário – CELU, merecendo, o seu poema, presença na antologia II Concurso de Poemas CELU.
Na mesma época, conquistou o primeiro lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia (Gralha Azul) na categoria autor. As duas peças de teatro foram, depois de muitos anos, reunidas no livro Teatro Inexperto em 2 peças quase distópicas, publicado pela Editora Artes & Textos em 2011.
Finalmente, em 2019, os velhos originais do opúsculo Amor Fati (Poemas da idade jovem em tempos sombrios) ganharam vida, assim como agora Serra Pitanga.
(Texto: Wanda Camargo)