“Amor fati”, itinerário maduro de tempos sombrios

Clèmerson Merlin Clève estará sempre destinado a ser “personagem inesquecível” daqueles que com ele conviverem. É raridade humana que pode ser medida a partir de seu perfil intelectual em que o cientista do Direito convive muito bem com o homem de múltiplas dimensões, como também a do poeta, tal como agora se descobre com o seu livro “Amor Fati” – “poemas da idade jovem em tempos sombrios”.

Não tenho nenhuma dificuldade de abordar esse raro personagem da vida acadêmica brasileira, constitucionalista absolutamente discreto, com reconhecimento Brasil afora. Exageros de amigos? Não. Apenas reafirmação de realidade em torno desse gerador de doutrina em Direito que, não por acaso, poderia se ufanar de ter aprovado 3 dos 11 atuais ministros do STF, como membro que foi de bancas universitárias para conferir o grau de doutor a suas excelências.

SOCIEDADE EM CHOQUE

Empreendedor numa sociedade que vive a solavancos entre o moderno capitalismo, o vozerio dos fanáticos à direita e à esquerda, as tentativas de sufoco de liberdades e direitos essenciais do ser humano, a fome das massas – Clève faz em “Amor Fati” um itinerário de reencontros.

Ali reencontra tempos em que o jovem ia moldando o homem maduro, e igualmente moldava o mocinho também romântico. De um romantismo discreto, contido, sem espaço para retumbantes expressões de amor.

A ORGANIZADORA

Conta-me a organizadora desse “Amor Fati”, Wanda Camargo, engenheira, professora aposentada da UFPR e parte da melhor alma da UniBrasil – criada por Clève com amigos -, que agora o notável jurista concordou que se edite o “Serra Pitanga”, livro que, como o outro, estava “perdido” em gavetas.

SERRA PITANGA

O novo livro expõe o menino Clèmerson vivendo a maior parte de sua infância em Pitanga, a cidade emoldurada pela serra Pitanga, e onde, não por acaso, o ensino universitário está presente graças a ele. Uma dádiva que o jurisconsulto e professor universitário foi entregando à gente de Pitanga com a mesma sensação de descobertas como as que experimentou Clève em grandes momentos, como aqueles do doutorado em Louvaine, Bélgica.

OBRA MADURA

A obra da maturidade costuma ser ponderada e realista, embasada em experiência e conhecimento. É o caso da produção de Clèmerson Merlin Clève em sua área de atuação profissional: doutor em Direito, constitucionalista respeitado, indicado ao Supremo, autor de livros seminais aclamados nos meios jurídicos e acadêmicos.

“E agora Clèmerson está lançando uma de suas obras de juventude: Amor Fati, “poemas da idade jovem em tempos sombrios”. Eram os anos setenta, tempos de censura e arbítrio, pensar parecia proibido, falar perigoso e sonhar fútil. Mas muitos pensavam, sonhavam, falavam; e também disso resultou o renascimento da democracia em nosso país”, assinala Wanda Camargo.

MADRUGADAS PÁLIDAS

E mais acrescenta Wanda: “Fechado em gavetas enquanto o autor percorria um brilhante caminho como jurista, hoje ‘Amor Fati’ é trazido à luz, uma lembrança de que na juventude o mundo é descoberto nas ‘madrugadas pálidas de espanto’, quando a vida parece trazer uma visão proporcional à capacidade de maravilhamento de quem vê”.

ADRIANA SYDOR

O livro representa a celebração da maturidade vitoriosa com o talento já existente na mocidade, e pode ser lida como um testemunho ou como um devaneio e, nos dois casos, é brilhante.

A escritora Adriana Sydor, autora do prefácio do livro, enaltece: “Com o empréstimo concedido aos poetas, e somente a eles, de palavras harmônicas e ritmadas, Clèmerson vai contando suas exigentes e universais histórias, o que nos coloca, todos nós que estamos do outro lado de sua imensa mesa, como espectadores de seus dias felizes, de seus dias de luta, daqueles dias que iniciaram essa caminhada de amor ao destino e de aceitação de cada nova curva dessa estrada que também é a nossa”.

“Amor Fati” não tem objetivo comercial. A edição é restrita, como que para cumprir um voto de não esconder uma poética de qualidade.

Texto: Aroldo Murá

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