No dia 14 de maio, o UniBrasil, com o apoio do COREN (Conselho Regional de Enfermagem) e do CRP (Conselho Regional de Psicologia), realizou uma live com o renomado Daniel Navarro Sonim, jornalista e escritor, autor do livro “O Capa-Branca”, no qual são narradas as memórias de um funcionário que se tornou paciente de um dos maiores hospitais psiquiátricos do Brasil.
Aliado ao evento online, foi promovido um “Concurso Estudantil” para estimular e valorizar a produção literária e discernimento crítico entre estudantes do Centro Universitário que participaram da palestra. A proposta era produzir um artigo no formato de resenha, ou uma poesia, articulada com o tema tratado no evento.
Atendendo a todos os requisitos e confirmando a sua capacidade de expressão e apreciação do conteúdo, a acadêmica do 9º período do curso de Psicologia, Jessica Magari Ferazza, foi a vencedora do Concurso com a poesia intitulada “Do branco ao carmim”.
Confira abaixo a poesia escrita pela acadêmica:
Do branco ao carmim
Há quem diga que existem olhos “sondantes” pelas nossas janelas.
Paredes que possuem ouvidos e casas que o grito é silenciado por um fio condutor de mentiras.
Qual é o preço do desvio? Não ousam em quebrar regras, mas interferem e ferem aquele que vomitou gritos, quando faltaram palavras para expressar a dor do castigo.
Se com ferro, feri, com a loucura fui ferido. Um abraço poderia ser a cura, mas fui envolto por paredes acolchoadas de capas brancas. Posso assim, ser um super-herói? Não é a capa que coroa um digno salva (dor)?
A pele que desenhei em mim, passou a habitar em lama. Fui um falso senhor da minha própria morada.
O fogo lampejou por relatos. Se pudesse escolher, queimaria a mim e todos aqueles que detiveram quem tinha motivos para gritar. As amordaças realmente estavam nas almas dos chicoteadores, escravizados pelo próprio gozo de matar mentes barulhentas, que acreditavam estar mantendo a ordem.
Fui eu quem disse: existem olhos pelas minhas janelas. Agora acrescento que nelas há lampejos de piedade. Mas quando foi que tive uma janela? A liberdade de fazer o que queria, me fez cair em uma grande cilada. Olha eu aqui, no pé da escada aguardando minha carne se ferir outra vez.
A história é contada, e de senhor nunca tive nada. Sou vítima do meu próprio tormento, hoje lamento ser fantasma, que não vaga sem se prender cada vez mais.
Mas não é de todo mal, engoli meu martírio ao vomitar palavras, não tiraram de mim o ato de levar os poucos, sentido para quem quis conhecer de perto um louco, não um louco qualquer, mas daquele que deixou de sentir a vida por carregar uma cruz forjada.
Vejo olhares espantados por aquele que mata o que te matou. Mas o que você acha de quem se diluiu em gritos por tentar se escapa do eu lírico? Não é fácil encarar um tormento sozinho.
A loucura estava em mim e está em você. São paredes com ouvidos, prestes a se desprender quando ousar não surtar.
De loucura ninguém se cura, pois contra si não há remédio, ela se apresenta com o tédio, por uma desconexão ao caminhar.
Não há bordas, nem miçangas, muito menos regras que possam conter quem de si já está cheio.
Entrei aqui pela porta da frente, julgando que o mundo lá fora era dureza. Ó, pobre Walter! Que não sairá com a mesma alma que adentrou.
Entrei sem contenção, desejava ficar e sará-los. Morri! Pois de mim não restou nem a mim, mas só uma Capa Branca suja por mãos apertadas demais.
É, os loucos dão trabalho. São muitos olhos sondando suas janelas que desembocam em uma serra, ao tentar escapar da contenção.
Tinha medo dos enfermos. Mas vi, não fazemos mal algum. Agora temo quem acredita ser salubre. Pois esses sim são os que enxergam solução no chicote.
Autora: Jessica Magari Ferazza
Psicologia 9º período